FeTuffani

Sem papas na língua

Aprendendo a escrever

Se a primeira coisa que você pensou foi algo relacionado a "ih não sabe escrever, olha lá, crianção" só vaza e volta pro seu mundo de fantasia

Antes de tudo

Uma das grandes deficiências que vejo nas pessoas é que as pessoas não têm capacidade de pensar, de entender o próprio pensamento, de se quer manter a cabeça focada numa ideia por mais de 3 minutos.

Tente manter um assunto profundo numa conversa (coisas não relacionadas ao trabalho) e observe: raramente alguém tem capacidade de aprofundar um assunto ou em algum momento esse assunto vai ser desviado pra falar qualquer coisa superficial.

Não tem problema querer só relaxar, não estar a fim de falar coisas sérias ou só querer deixar a cabeça vazia. O problema é que nunca tem espaço pra coisa séria.

Vamos lá, o que isso tem a ver com escrever? Escrever é uma metáfora para "expor seus pensamentos" (pode ser só escrever também), criar algo, pensar com mais de 2 neurônios, sair desse estado mental preguiçoso de baixa energia e por a cabeça pra funcionar, se permitir ver as coisas de uma outra maneira que vai contra o que você já sabe (ou acha que sabe) e/ou acredita, é sair desse mundo criado dentro da sua cabeça e DE FATO aprender ou pensar alguma coisa diferente.

Não quero falar que eu sou um ponto fora da curva, a verdade é que eu me considero bem o que deveria ser a média. E Infelizmente eu vejo muito conteúdo de alguns influenciadores que falam basicamente a mesma coisa: não existe pensamento critico nas pessoas.

Mania determinística

Não é de hoje que eu enxergo isso e só estou escrevendo porque vi exatamente o mesmo pensamento que tenho há vários anos.

As pessoas têm uma puta mania limitante de colocar tudo em caixas. E tudo que está numa caixa não conversa com absolutamente nada que está em outra caixa.

"Eu sou de humanas, não sei fazer conta."

"Uma pessoa do signo tal jamais faria isso."

"Aborto é coisa de esquerdista. Se você é a favor, você é de esquerda."

"Sanguíneos são bons coprodutores?"

"Eu queria ter mais iniciativa mas sou fleumático."

"Não consigo fazer tal coisa pq meu sócio me roubou em 1993 e ferrou com a minha vida."

(as últimas foram tiradas de exemplo da página do Ícaro de Carvalho)

Galera, pelo amor de deus, parem de colocar tudo em caixas! Só parem!

Tem boas chances de você ter pensado que não é esse tipo de pessoa, mas para pra se policiar, com quase toda certeza você já fez ou faz algo do tipo. Parem de achar que as coisas são preto no branco.

Você não pode assumir uma coisa por causa de outra como se fosse uma regra universal inabalável. Se você é do tipo que faz isso, parabéns, sua capacidade de pensamento é quase zero e provavelmente você ainda se acha inteligente e acha que vai mudar o mundo assistindo 6h diárias de Netflix. Só pra ficar claro, não tem problema assistir, o problema é você se fechar dentro desse pensamento determinístico limitante.

Se manter nisso só vai te trazer uma vida miserável. E o pior de tudo é que você nem vai perceber que você mesmo que causou isso.

Pensar dessa forma é não saber escrever, não saber pensar, não saber falar ou expor um pensamento bem estruturado.

Por que escrever?

Numa apresentação do Jordan Peterson, ele diz que as pessoas não sabem o motivo de escrever.

"Porque tenho que escrever esse artigo pra faculdade?"

"Você precisa da nota, não precisa?"

Além de não dar um motivo bom, ainda coloca o estudo numa posição ruim, como se fosse um obstáculo colocado ali pra dificultar sua vida.

Mas vamos lá, você tem que escrever pra aprender a pensar! Escrever é uma das melhores maneiras que você tem pra começar a organizar sua cabeça em produzir algo. Não só intelecto, todas as outras atividades precisam de concentrações parecidas com a escrita, seja um esporte, uma tarefa manual... tudo! E é a melhor maneira de você sair desse mundinho determinístico que criou pra você mesmo, além de produzir algo que tem chances de trazer coisas boas.

O real motivo de aprender a escrever é aprender a pensar, produzir, relacionar, discutir, conversar...

E eu sinto que tudo que as pessoas querem fazer é pensar o mínimo possível e fazer da maneira mais fácil (leia-se burra) possível. Colocam tudo em caixas. Não relacionam uma coisa com a outra. Não organizam suas ideias, tem medos de discussões e de estarem erradas.

Isso cria uma bola de neve que as pessoas ancoram motivos, criam crenças limitantes e se tornam preguiçosas. Ah, e não é porque você acorda as 6h, corre e lê livros, posta coisas "pra frente" nas redes sociais (ou qualquer outra atividade que está na moda pra ser produtivo) que você está livre de qualquer chance de ser determinista.

O motivo de você escrever o artigo pra faculdade é justamente buscar o que outras pessoas falaram ou pensaram e criar na sua cabeça um senso que eu chamo de "enxergar por fora" que é basicamente se permitir ignorar o que você acredita ou acha que sabe e criar um pensamento neutro sem viés nenhum (que é BEM mais difícil do que parece, acredite)

O motivo de você aprender escrever é não ser uma pessoa que simplesmente repete as coisas e não consegue sustentar um argumento (ou uma conversa que seja) por mais de 3 minutos. É não colocar tudo em caixas.

O motivo que eu quero escrever é pra aprender a comunicar meus pensamentos (algo que eu não pratiquei durante a vida) e também exercitar o pensamento crítico.

Ainda vou falar bem mais sobre esse assunto em outros posts... Aguardem.


Como eu notei esse tipo de pensamento nas pessoas

Sou um cara da programação (aliás, esse blog inteiro foi codificado por mim caso esteja curioso) e uma das coisas básicas que qualquer programador — ou alguém que trabalha com códigos — tem que ter é justamente não ser determinísticos.

Eu participo de várias comunidades onde diversas pessoas estão na fase de aprendizado, e uma característica marcante é o pensamento determinístico.

​ "Eu preciso aprender X antes senão não vou conseguir evoluir em Y."

​ "Como eu sei se sou Jr, Pleno ou Sênior?"

​ "Eu sou backend, não sei fazer tal coisa"

E por aí vai...

Não vejo problema em estar no começo e ainda estar perdido. O que me incomoda é que as pessoas são condicionadas a alguns marcos ou exigências que elas impõem sobre elas mesmas.

Claro, se você aprender X antes de Y isso lá na frente talvez te ajude, mas eu não quero que você enxergue isso como uma necessidade bruta. Vai lá, experimenta o Y, se joga e esteja aberto a aprender. Se X for necessário você aprende de tabela.

Acho que a maneira mais direta que tenho de exemplificar isso é uma maneira de pensar que eu chamo de "pensamento lego”. Já viu o brinquedo? você pode encaixar qualquer coisa em qualquer outra coisa. O que eu enxergo no mundo são as pessoas acreditando que o bloco azul só encaixa no azul, o quadrado só encaixa no quadrado, e quando você mostra que o azul encaixa no verde as pessoas olham com uma cara de "como isso é possível" espantadas por não terem pensado nisso antes e assustadas com a descoberta da possibilidade.

É como se existisse um roteiro engessado, de como fazer as coisas, de como pensar, que não pode ser mudado e quando esse roteiro é quebrado gera espanto.

E como eu disse, isso parece obvio. E se você acha que é obvio, provavelmente não vai parar pra pensar e de fato analisar, se enxergar por fora, aceitar que você é determinístico e aos poucos mudar sua cabeça. Não vai ser em uma semana, um mês...